O
presidente da Sumitomo do Brasil, Shizuma Kubota, respirou aliviado
quando há um mês a matriz da companhia autorizou um investimento de R$
487 milhões para erguer uma nova fábrica ao lado da unidade construída
há três anos no Paraná. Parecia difícil explicar por que um fornecedor
de pneus precisava de expansão num momento em que seus clientes operam
com menos da metade da capacidade instalada.
Mas o caso desse grupo japonês é diferente. Sua marca de pneus Dunlop,
tradicional na Ásia, Europa e Estados Unidos, tem uma história recente
no Brasil e aposta na recuperação da economia para disputar mercado com
as demais gigantes do setor. A fábrica em Fazenda Rio Grande, a 30
quilômetros de Curitiba, começou a operar em 2013 com a produção quase
toda voltada ao mercado de reposição.
Mas no ano passado surgiu a chance de a filial brasileira disputar o
cobiçado mercado das montadoras. A Toyota fez uma encomenda de pneus
para sua fábrica de picapes na Argentina. Este ano surgiram pedidos da
Fiat e Volkswagen, o que animou Kubota a pedir autorização para tirar do
sufoco a fábrica que hoje opera 24 horas sem interrupção.
Espaço em Fazenda Rio Grande é o que não falta. A fábrica atual ocupa 86
mil dos 500 mil metros quadrados de área. Embora represente um passo
importante para concorrer com Michelin, Goodyear e Pirelli, que dominam o
mercado, o projeto de expansão da Sumitomo só ficará pronto no fim de
2019, véspera do ano em que o grupo fixou como meta concluir um programa
de aumento de receita de mais de 50% por meio da inserção em mercados
emergentes.
Não é de hoje que Kubota está envolvido no projeto de expansão mundial. O
executivo foi um dos responsáveis pela construção da fábrica na
Tailândia, que se transformou na maior do grupo, com capacidade para
produzir 80 mil pneus por dia, mais de quatro vezes mais do que a
operação brasileira alcançará depois de concluído o novo investimento.
No Brasil, a expansão de capacidade da única operação industrial da
Sumitomo na América Latina, elevará a média de produção de 15 mil para
18 mil pneus por dia. O sorridente Kubota ri ao comentar a atual
participação da marca no mercado de montadoras: menos de 1%. A empresa
conta, entretanto, com posição melhor, de 10%, no mercado de reposição,
favorecida, sobretudo, pela crise. Quem não conseguiu comprar um carro
novo viuse obrigado a trocar os pneus do velho.
A crise econômica, que fez o setor automotivo mergulhar num dos piores
momentos de sua história, serve de estímulo para que o executivo, dotado
da típica paciência nipônica, aposte na recuperação das vendas quando a
nova fábrica ficar pronta.
Para convencer a matriz a liberar o novo investimento no Brasil Kubota
carregou para Hyogo, cidade próxima Osaka e sede da companhia, previsões
de economistas brasileiros. “Nos baseamos principalmente nos cálculos
de que haverá crescimento do Produto Interno Bruto a partir de 2017”,
destaca. Segundo ele, metade do valor do investimento será feito com
recursos próprios. A matriz japonesa entrará com a outra metade.
Kubota faz segredo sobre dados financeiros da filial brasileira. Ele diz
que os concorrentes não podem saber detalhes. Somente nos quatro
primeiros meses do ano a indústria de pneus do Brasil amargou queda de
25% nas vendas para montadoras, segundo a Anip, a associação do setor.
Com 13 fábricas espalhadas no mundo, a divisão de pneus representa 87%
da receita mundial da Sumitomo, que desde 1963 é dona da Dunlop, que
nasceu na Inglaterra no século XIX. Em 2014 (último dado financeiro
divulgado), a Sumitomo Rubber registrou faturamento equivalente a US$
6,2 bilhões. O plano de crescimento baseado na expansão em mercados
emergentes indica chegar ao equivalente a US$ 9,5 bilhões em 2020.
Kubota está há menos de dois anos de Brasil, mas acumula larga
experiência na empresa. O executivo começou a trabalhar na Sumitomo em
1977. Passou por diversas funções, como a área financeira e divisão
internacional, além da participação no projeto da fábrica na Tailândia.
Mas não é só de pneus que o executivo entende. No Japão, Kubota também
trabalhou na divisão de produtos esportivos, pouco conhecida no Brasil.
No Paraná, onde mora hoje, ele ainda pratica golfe com as bolinhas
Sumitomo que faz questão de trazer do Japão.
Valor Econômico/Marli Olmos