Apesar
da queda nas encomendas das montadoras, a produção de pneus no Brasil
segue em alta como resultado da agressividade dos fabricantes no mercado
de reposição - que concentra cerca de metade das vendas -, a retomada
das exportações e o início das operações, em setembro, da fábrica da
japonesa Sumitomo no Paraná.
Levantamento da Anip, a entidade que representa a indústria nacional de
pneus, mostra que a produção do setor avançou 9,9% no primeiro
trimestre, ultrapassando 18 milhões de unidades no período. Em 2013, no
embalo da atividade recorde das montadoras, os fabricantes de pneus já
tinham aumentado a produção em 9,7%.
Já em 2014, o setor se vê forçado a explorar outros mercados porque as
entregas para os fabricantes de veículos cedem 6,8%, somando pouco mais
de 5 milhões de unidades nos três primeiros meses do ano. Só no segmento
de carros de passeio, houve queda de 14,8% no fornecimento a
montadoras. Ainda assim, as vendas da indústria de pneus, incluindo os
demais canais de distribuição, subiram 6,6% - para 19,3 milhões de
unidades nos três meses - por conta, principalmente, do avanço de 13,2%
no mercado de reposição, o chamado "aftermarket", onde foram vendidos
quase 11 milhões até março.
Para Alberto Mayer, presidente da Anip, o setor está se beneficiando do
crescimento da frota de veículos. Ou seja, o crescimento ininterrupto
das vendas de veículos novos em quase uma década gera agora maior
demanda pela manutenção desses carros, o que inclui a troca dos pneus.
Ao mesmo tempo, as exportações, após três anos seguidos de baixa, voltou
a crescer. Entre janeiro e março, 3,5 milhões de pneus foram embarcados
ao exterior, 9,6% a mais do que um ano atrás.
Embora tenha ajudado nas exportações, a desvalorização do real aumenta o
custo da importação de insumos como as borrachas natural e sintética.
"Grande parte dos benefícios vindos com o real menos valorizado são
anulados por essas importações necessárias ao processo industrial e não
cobrem as diferenças de competitividade, principalmente com os países da
Ásia", afirma Mayer.
Por isso, os fabricantes de pneus seguem cobrando incentivos ao governo.
Uma reunião deve acontecer ainda na primeira quinzena de maio no
Ministério do Desenvolvimento, em Brasília. Entre os temas que serão
colocados na mesa está a cobrança de uma alíquota de 30% na importação
de moldes para pneus.
A Anip também pretende cobrar que os investimentos obrigatórios em
programas de coleta e reciclagem de pneus sejam estendidos a todos os
importadores desse produto. "Os fabricantes que investem no Brasil
obedecem a todos os parâmetros estabelecidos pelas montadoras e por
órgãos de governo, o que nem sempre acontece com os importados", afirma
Mayer.
Mesmo com a acomodação nas importações, que cresceram apenas 0,6% no
trimestre, o Brasil segue registrando déficit comercial nesse mercado.
Até março, as importações superavam as exportações em 6 milhões de
unidades, o que representa, em valores, um saldo negativo de US$ 57,4
milhões na balança comercial. Só a China, que responde por 62% do total
de pneus importados, ampliou em 7,7% as vendas do produto ao Brasil,
apesar de sobretaxas de dumping que podem chegar a US$ 2,56 por cada
quilo de pneu importado do país asiático.
Embora o início de ano tenha sido positivo, a expectativa é de
desaceleração na curva de crescimento da produção de pneus. As
estimativas da Anip apontam para uma evolução de 2,5% até dezembro, bem
abaixo dos quase 10% registrados no primeiro trimestre.
Mayer conta que as empresas estão preocupadas com a situação das
montadoras, que estão parando linhas diante do cenário de menor consumo
interno, queda nas exportações e avanço dos estoques. Fora isso, diz o
executivo, a crise e as restrições a importações da Argentina, além de
afetar as montadoras brasileiras - que utilizam, na maior parte, pneu
nacional -, também atinge em cheio as exportações diretas dos
fabricantes de pneumáticos instalados no Brasil ao país vizinho.
Fonte: Valor Econômico - Impresso / Online - 28/04/2014