Mas balança comercial do setor ficou negativa em US$ 355,5 milhões, aponta Anip
O setor de pneus driblou adversidades da indústria brasileira e
conseguiu bater recorde de produção em 2013. De acordo com dados
apresentados na terça-feira, 28, pela Anip, a associação que reúne 11
fabricantes locais (incluindo a Dunlop, que inaugurou planta em
outubro), foram feitos no ano passado 68,8 milhões de pneus de todos os
tipos, volume 9,7% superior ao de 2012. Mais de 1,7 mil postos de
trabalho foram criados em 2013 pelo setor, que hoje soma 27 mil
empregados diretos e mais 100 mil indiretos em 20 fábricas espalhadas
pelo País, respondendo por 1% do PIB industrial brasileiro.
Todos os segmentos automotivos tiveram aumento de demanda no ano
passado, em especial o de veículos comerciais. Houve alta de 15,2% na
produção de pneus de carga, motivada pelo avanço da safra agrícola.
Enquanto a fabricação de caminhonetes avançou 20,7%, como consequência
da expansão de serviços de pequenas e médias empresas. A produção de
pneus para veículos de passeio teve expansão de 6%, para 32,4 milhões.
As vendas das associadas à Anip (incluindo produtos importados)
acompanharam a curva crescente. Avançaram 6,9% em relação a 2012,
totalizando 72,6 milhões de unidades, resultado próximo ao recorde de 73
milhões obtido em 2010. O mercado que mais comprou pneus nacionais foi o
de reposição. Sua demanda chegou a 37,7 milhões, alta de 12,6% sobre
2012. As vendas para montadoras cresceram 6,3%, passando de 21,1 milhões
para 22,5 milhões de pneus entre 2012 e 2013.
Para 2014, a Anip prevê aumento de até 2,5% na produção de pneus. "Não
será maior do que isso, visto que o mercado de veículos tende a evoluir
muito pouco. Mas se crescer tudo isso, até as nossas vendas deverão ser
recordes, ultrapassando 73 milhões de unidades", calcula Alberto Mayer,
presidente executivo da Anip.
DÉFICIT DA BALANÇA COMERCIAL
As empresas associadas à Anip importaram no ano passado 5,8 milhões de
pneus, o equivalente a 8,5% do que produzem por aqui. Segundo a
associação, foram trazidos modelos com pouca demanda e que não
justificam a fabricação local. Somados os volumes dos importadores,
entraram no País 44,9 milhões de pneus, 7,3% a mais do que o anotado em
2012.
Já as exportações totais encolheram novamente de um ano para outro:
7,5%, de 14,7 milhões para 13,6 milhões de unidades. Com estes
resultados, o saldo da balança comercial do setor permaneceu negativo (é
desde 2010) em US$ 355,5 milhões, ante US$ 70 milhões em 2012. Em
unidades, o déficit chega a 31,1 milhões de pneus. A participação dos
importados no consumo aparente se manteve na faixa de 39%, sendo que 55%
deles vêm da China com preços mais baixos.
COMPETITIVIDADE
Mayer explica que tem sido possível manter o nível alto da produção
graças a investimentos constantes. Segundo o executivo, foram injetados
pelas fabricantes mais de R$ 10 bilhões no Brasil no período de 2007 a
2015 para acompanhar a evolução mundial do setor e a motorização
crescente do País, que ocorre com o crescimento da renda.
"A indústria de pneus estabelecida no Brasil é tecnologicamente muito
avançada e vem investindo continuamente para acompanhar o
desenvolvimento dos veículos e continuará a fazer investimentos nos
próximos anos para atender o Inovar-Auto, que visa aumentar o número de
produtos nacionais", acrescenta Jean-Philippe Ollier, presidente do
conselho de administração da Anip.
Mas Mayer ressalta que o volume de pneus nacionais poderia ser muito
maior se a indústria brasileira fosse mais competitiva. "Sem as
dificuldades do custo Brasil, poderíamos ter mais duas ou três fábricas
no País." O presidente-executivo diz que tem negociado com o governo
federal benefícios para a indústria local. "Defendemos que a desoneração
da folha de pagamento, prevista para terminar em 2014, seja mantida.
Além disso, pleiteamos a volta do Reintegra (regime especial de estímulo
à exportação), que não foi renovado. Temos custos maiores no Brasil do
que em vários outros países, devido a aspectos burocráticos,
tributários, logísticos e legais, que precisam ser revistos."
Na visão do executivo, o Inovar-Auto saiu do papel, mas até agora não
impactou as fabricantes de pneus: "A nova política que incentiva a
nacionalização dos veículos não foi expandida para o setor de autopeças.
Falta estratégia de crescimento para toda a indústria. Atualmente, não
conseguimos nem comprar borracha natural suficiente no País para
produzirmos os componentes. Só há um fabricante no Brasil, que atende
somente 25% da nossa necessidade. Temos pressa para receber a ajuda do
governo."
"Nós não somos contra as importações, mas temos buscado defender a
produção local da concorrência desleal com ações antidumping e de defesa
comercial. Também temos atuado junto ao governo para ampliar a
fiscalização de modo a evitar importações irregulares ou de produtos em
desconformidade com a legislação e as normas de qualidade e segurança.
Outro aspecto que temos insistido é que os importadores cumpram, como
nós, a regulamentação sobre o recolhimento e destinação de pneus
inservíveis", avalia Ollier.
A Anip, por meio da Reciclanip, sua entidade sem fins lucrativos
mantida desde 1999, já coletou e destinou 2,68 milhões de toneladas de
pneus inservíveis, 404 mil toneladas somente em 2013. Em 2014, prevê
investir R$ 99 milhões em logística reversa, valor superior ao do ano
passado. A Reciclanip conta com 824 pontos de coleta e uma média de 70
caminhões que transportam diariamente os pneus.
Fonte: Abrac / Online - 29/01/2014