A
produção de borracha natural desponta como um dos negócios mais
lucrativos, no momento, para quem deseja diversificar a atividade rural.
A extração de látex em grande escala está concentrada em poucos países,
o estoque segue no limite e não há perspectivas de aumento razoável da
oferta do produto mesmo no longo prazo.
De olho nesse mercado que promete ser remunerador ainda por muitos anos,
produtores de vários Estados brasileiros têm apostado na implantação de
seringais - uma alternativa para proprietários rurais de praticamente
todos os tamanhos.
"A possibilidade de lucro varia de R$ 1.100 a R$ 1.200 por mês em um
hectare bem conduzido", garante Heiko Rossmann, diretor da Associação
Paulista de Produtores de Borracha (Apabor). No Paraná na última
quinta-feira, onde participou em Indianópolis, região de Cianorte, de um
evento com agricultores e técnicos sobre o assunto, Rossmann explicou
que a seringueira permite extração por dez meses consecutivos entre
outubro e julho, 500 árvores podem ser plantadas em um hectare (dez mil
metros quadrados) e um único trabalhador é capaz de cuidar de um módulo
de quatro hectares - ideal para quem pretende começar.
"A atividade tudo para dar certo no Paraná", afirmou o ex-secretário de
Agricultura paulista, João Sampaio, que também esteve em Indianópolis.
Um dos primeiros a acreditar na heveicultura no Estado de São Paulo e
também no Mato Grosso, Sampaio ressaltou que o Brasil produz menos da
metade do que consome e a colheita dos dois principais países
produtores, Tailândia e Indonésia, deve ser absorvida nos próximos anos
pela própria Ásia - a China é o maior comprador, seguida de União
Europeia e Estados Unidos.
Sampaio lembrou que a região noroeste paranaense apresenta condições de
clima e solo parecidas com a do vizinho Estado de São Paulo, responsável
atualmente por 54% da oferta nacional de borracha natural. Mesmo assim,
diferente do que se vê em outras partes do País, quase não se faz
plantio no Paraná, que participa com apenas 0,5% da produção brasileira.
Depois de São Paulo vêm a Bahia com 17,6%, Mato Grosso (9,4%), Minas
Gerais (6,1%), Espírito Santo (3,7%) e Mato Grosso do Sul (0,7%).
Amazonas, Pará e Acre, Estados de cujas florestas a seringueira é nativa
e que no passado fizeram do Brasil o principal produtor mundial de
borracha natural, representam apenas 2,1%.
Oportunidade para a região noroeste
O principal estímulo para que produtores do noroeste do Paraná invistam
no plantio de seringais não é propriamente a cotação atual de R$ 2,31 o
quilo do coágulo (látex), tida como atraente - o preço mínimo sustentado
pelo governo federal é de R$ 1,73. Na região metropolitana de Curitiba
opera desde o início do mês uma fábrica de pneus da companhia japonesa
Sumitomo Rubber Industries, a primeira fora da Ásia, com produção diária
de 5 mil unidades por dia, quantidade que deve triplicar em 2015.
Segundo o gerente da empresa, Valnei Andretta Júnior, já haveria demanda
para a produção de 17 mil hectares - mais de dez vezes a área cultivada
atualmente no Estado. Ele explica que o coágulo precisa apresentar teor
de borracha seca de 53%.
Visando oferecer a atividade como proposta de diversificação para as
pequenas propriedades de sua região, a Cocamar Cooperativa
Agroindustrial, de Maringá, planeja fomentar o cultivo por ser um
negócio rentável e também porque a seringueira é aceita em 50% da
recomposição de reserva legal (20% das terras devem ser deixadas como
áreas de preservação permanente, de acordo com o Código Florestal). A
cooperativa já anunciou que vai garantir a compra do látex junto aos
produtores e instalar uma usina para processar a matéria prima.
INCENTIVO ESPECIAL
Por outro lado, como o governo estadual criou um programa especial para
incentivar a heveicultura, vai conceder um subsídio de 50% para o preço
da muda - cotada a R$ 6,50, que precisará inicialmente ser trazida do
interior paulista. Isto, conforme o coordenador de florestas plantadas
da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Marino Félix
Duran, reduz o custo de implantação, estimado em R$ 16 mil por hectare.
“Se o produtor usar mão de obra própria, o investimento cai mais ainda”,
acrescenta. Finalmente, o governo federal oferece facilidades para
que um pequeno proprietário ingresse nesse negócio. Uma linha especial
de crédito instituída por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA) destina R$ 70 mil em duas parcelas de R$ 35 mil cada, ao
interessado, a custo de 1% ao ano, oito anos de carência e 20 para
pagamento. "É um dinheiro muito barato", afirma o paranaense Onaur
Ruano, secretário do MDA, lembrando que o proprietário da terra pode
obter renda consorciando seu seringal com outras culturas, durante
alguns anos, até que as as árvores cresçam. Mandioca, abacaxi,
hortaliças e até mesmo cultivos de grãos podem ser plantados nos espaços
intercalares.
Produtor Romero já tem seringal há 23 anos
Em 1989, quando tinha 49 anos de idade, o agricultor Ângelo Romero
decidiu comprar um pequeno sítio de quatro alqueires em Indianópolis, no
noroeste do Paraná. O momento era de declínio da cafeicultura e muita
gente, lembra, estava se desfazendo de suas terras para ir embora para a
cidade. Romero e a família se fixaram ali, habitando a mesma casa de
madeira onde ele e a esposa vivem até hoje. O produtor, atualmente com
73 anos, se tornou uma referência por ser um dos primeiros e únicos no
Estado a lidar com uma atividade, a heveicultura, que começou a
implantar ainda em 1990.
Romero possui 2,1 mil árvores, das quais cuida sozinho, obtendo média de
800 gramas a 1 quilo de látex por árvore a cada mês, produto
comercializado para uma usina de processamento de Cedral (SP), a
Quirino, que vem buscar na propriedade. A última cotação, segundo o
produtor, era de R$ 2,50 o quilo. O preço oscila, em linha com as
variações do mercado internacional, a exemplo do que acontece
mensalmente com a produção de látex. "Tem mês que, no total, conseguimos
pouco mais de 1.500 quilos e tem mês que passa de 2.000 quilos", conta.
Como é o próprio agricultor quem cuida de tudo, as despesas são poucas,
basicamente com aplicação de adubo orgânico (esterco de aves) e controle
da antracnose, doença que ataca o tronco.
O produtor diz que nunca se arrependeu por ter investido em um seringal.
O trabalho é relativamente leve e à sombra, a sangria de uma árvore é
feita de cinco em cinco dias e o lucro mensal compensa mais do que
qualquer outro negócio. Em uma conta rápida, aponta que a produção de
borracha natural é cinco vezes mais rentável que a cana, três ou quatro
vezes mais que a soja e muito mais do que faturaria com café. Ele mantém
no restante do sítio uma pequena pastagem, "mas o negócio bom mesmo é a
borracha", porque nem entregar precisa, "o pessoal vem buscar aqui".
Romero lembra que tempestades e ventanias fortes podem quebrar uma
árvore, mas ela rebrota. Na fase de implantação, precisa cuidar com a
geada e, anualmente, vale a pena, segundo ele, investir em adubação
orgânica, pois a cultura "responde bem".
NÚMEROS DA HEVEICULTURA
• O mundo produz atualmente 11,383 milhões de toneladas de borracha
natural e consome 10,924 milhões, com um saldo de 459 mil toneladas,
suficiente para apenas dois meses.
• O maior produtor, a Tailândia, produz 3,512 milhões de toneladas e
consome apenas 450 mil; depois dela vêm Indonésia (produção de 3,015
milhões de toneladas e consumo de 488 mil), Vietnam (produção de 955 mil
toneladas e consumo de 150 mil) e Malásia (923 mil toneladas de oferta e
demanda interna de apenas 441 mil). A partir daí, todos os demais
países produtores são deficitários, começando pela Índia, que produz 915
mil toneladas, mas consome 988 mil; a China, sexto maior produtor
mundial, produz 795 mil toneladas, mas consome 3,850 milhões de
toneladas.
• O Brasil, oitavo maior produtor, colhe apenas 171 mil toneladas (dados de 2012) e consome 343 mil toneladas.
• A importação de borracha é o produto que mais impacta negativamente a balança comercial do agronegócio brasileiro.
• Os preços internacionais da borracha têm, como referência, a bolsa de Cingapura.
• Um seringal tem, segundo os técnicos, pelo menos 35 anos de vida útil.
A média de produção é de 8 quilos/ano, com extração por dez meses
seguidos (outubro a julho).
• A previsão para 2021, de acordo com especialistas, é que o mundo
produzirá 15,7 milhões de toneladas, para um consumo estimado em 16,7
milhões de toneladas, sendo 75% desse volume destinado a indústrias de
pneumáticos. O déficit será de um milhão de toneladas.
• Há um crescimento contínuo da demanda no sudoeste asiático e no mercado brasileiro.
Fonte: Jornal Umuarama Ilustrado /Online - 10/11/2013