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O superesportivo de duas toneladas

Apresentada na Europa no fim do ano passado e recém-chegada aoBrasil, a RS 6 é a precisão técnica alemã levada aos limites do non sense. Como explicar a existência de uma espaçosa caminhonete com potência igual à de uma Ferrari 458? Apesar das quase duas toneladas de peso, esse delírio sobre rodas faz o 0 a 100km/h em 3,9 segundos e alcança 305km/h. E ainda tem tração integral, que faz toda a diferença, como veremos adiante...

Apesar de ser uma "wagon", a RS 6 tem formas excitantes. O motorista do 472 faz sinal de positivo com o dedão; o frentista pede para tirar uma foto. No estacionamento, um velhinho de uns 90 anos vem puxar assunto. Ninguém passa indiferente à visão de para-lamas muito largos, enormes tomadas de ar, aros de 21 polegadas, alumínio nas capas dos retrovisores e linhas que sugerem movimento mesmo com o carro parado.
Para-lamas, as caixas internas, o capô, as portas são de alumínio. Só o teto leva aço (e vidro). Dentro, muita fibra de carbono. Em vez de couro brilhante, é pelica que forra os bancos esportivos, com muito apoio lateral. Como o túnel central é alto, a traseira tem apenas dois lugares, em bancos bem separados.
Na onda da exibição técnica, a tampa da mala abre e fecha eletricamente, na altura que você desejar. Quer levar selas para o haras? O porta-malas é enorme.
Sob seu fundo falso, porém, não cabe estepe: no lugar, há uma bateria gigante para comandar toda essa eletrônica, além de um subwoofer. Furou o pneu? Use material que veda furos e um compressor. Rasgou um pneu? Chame a prancha.
Ergonomia de carro alemão é sempre perfeita e, na RS 6, os ajustes da coluna de direção têm enorme curso. Pode-se puxar o volante (com couro furadinho, que delícia) e guiar com braços bem articulados.
Rumo ao posto, em busca de gasolina premium, a RS 6 surpreende pela suavidade. Como convém a um Audi, o acerto dinâmico é comandado pelo botão giratório no console, onde o motorista opta pelos modos confortável, automático e dinâmico. Cada um muda direção, suspensão, motor, transmissão. E tem ainda a regulagem individual: se você não estiver satisfeito com os ajustes pré-programados, pode fazê-los um a um. Tudo de forma incrivelmente fácil, mesmo para brucutus tecnológicos.
Ponha no modo Comfort e sua tia pode usar a RS 6 para ir ao supermercado. Reina o silêncio e a docilidade (basta não acelerar forte...). Mude para o Dynamic e você pode ir ao autódromo, participar de um track day.
Ao pegar a serra é que a tração nas quatro rodas mostra a que veio. O câmbio é um ZF automático convencional, mas com oito marchas. Vai atrelado a um diferencial central mecânico.
O diferencial dianteiro é comum, enquanto, o traseiro é do tipo esportivo: quando o sistema entende que se vai entrar forte na curva (pelo giro do volante, pedal do acelerador em um certo ponto, com determinada marcha engatada), ele tira torque da roda que está no lado interno da curva e joga para a do lado externo.
Na prática, com tanta potência e aderência, a RS 6 faz tudo o que você quiser, com forças G mais altas do que em qualquer outro carro de passeio já experimentado aqui. Além disso, há muita borracha no chão: os quatro pneus são larguíssimos Dunlop 285/30 R21. E, claro, vamos no modo "Dynamic", que aumenta a carga dos amortecedores, deixa a direção direta e faz sentir cada irregularidade da pista.
Pé leve para acompanhar o Agile que levava o fotógrafo, e a RS 6 ia pipocando lindamente. Uma reta, redução para terceira e a aceleração mais brutal que você pode imaginar vem acompanhada de um grito poderoso.
Quem vai no carro de trás vê apenas duas grandes saídas de escape ovais. Dentro destas, contudo, há quatro bocas: duas ficam sempre abertas e as outras vão normalmente fechadas. Quando se põe no modo Dynamic ou se pisa fundo no acelerador a partir de uns 80km/h, as tampinhas se abrem, o fluxo de gases bate nas ponteiras ovais que passam a funcionar como um reverberador, espocando um "bô-bô-bô-bô" encorpado a cada tirada de pé.
Cansou? Ponha em Comfort novamente e ligue o som Bang & Olufsen, com torres móveis que detectam onde estão os passageiros, ondas que anulam ruídos externos e o diabo a quatro. Vale alguns milhares de dólares e faz com que a banda do Dave Brubeck pareça estar dentro do carro tocando "Blue Rondo à la Turk".
Andando manso em velocidade de cruzeiro, o motor corta quatro de seus oito cilindros, para reduzir consumo e emissões. Nem se nota a transição. Nossa média ficou em 6,8km/l.
As sensações auditivas e sensoriais são viciantes. Após o bate e volta pela BR-040, a vontade que dá é arrumar R$ 550 mil (sabe-se lá como), comprar uma RS 6, morar em Petrópolis e trabalhar no Rio, só para curtir o carro todos os dias. No fim, só encontramos um problema: nos engarrafamentos, a sensação de impotência é bem maior quando se está a bordo de um monstro de 560cv.
Fonte: Extra - RJ /Online - 20/11/2013